terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
Comentários-Prof.Fernando
Comentários-Prof.Fernando(*) -2ºdomQUARESMA – 4mar2012 –a paz que dá coragem–
RESUMO DAS LEITURAS #1ª leit.: Gn 22,2-18 Não estendas a mão contra teu filho e não lhe faças nenhum mal! Agora sei que temes a Deus, pois não me recusaste teu filho único #Salmo: Sl 116 Guardei a minha fé, mesmo dizendo: “É demais o sofrimento em minha vida!” #2ª leit.: Rm 8,31b-34 Deus, que não poupou seu próprio Filho: se o entregou por todos nós, como não nos daria tudo junto com ele? #Evang.: Mc 9,2-10 E transfigurou-se diante deles. Esse é meu Filho: Ouvi-o.
· A narrativa de Abraão, disposto a sacrificar o próprio filho, encontra na experiência do Patriarca o fundamento da lei ritual mosaica (cf. Ex13,11) que determina a entrega a Jahwé de todas as primícias e primogênitos animais. Como tudo vem de Deus, a ele deve ser entregue simbolicamente o primeiro fruto, da colheita ou dos animais. No caso dos filhos porém, Israel evoluiu para além dos sacrifícios humanos usados pelos outros povos. Eles são substituídos por “resgate” a ser pago. Esse costume lembra a saída do Egito, quando os primogênitos (do Faraó e de todo o seu povo) foram exterminados enquanto os filhos dos hebreus foram poupados da morte.
· Por outro lado, o episódio abraâmico se torna figura e símbolo da radical entrega a Deus de toda a nossa vida. E é figura daquilo que Paulo lembra aos Romanos: Deus entrega o próprio Filho por nós como nosso “resgate”; é graças a ele que podemos ser “filhos no Filho”, isto é, poderemos ver Deus face a face e participar da sua vida plena. Isso seria impossível se fôssemos apenas criaturas, infinitamente distantes do criador.
· Esse “Mistério” (= o que vivenciamos embora ultrapasse nosso entendimento imediato) é o que estamos preparando até a Páscoa. Para cristãos ou não crentes, pessoas de fé ou ateus, e, enfim, para as pessoas de todos os povos em todas as culturas e épocas, a vida apresenta muitas ocasiões semelhantes ao drama de Abraão. Assim: a morte de pessoas muito queridas, as injustiças sofridas pelo inocente, as catástrofes da natureza, sem falar de guerras, perseguições e das mentiras que matam ou trituram o coração. Nesses momentos surge um grito espontâneo (como bem expressam poetas, filósofos, escritores, cineastas e outros): onde Deus está? Quando tudo desmorona à volta parecemos brinquedos de Destino cego tal como os gregos o viram nas Tragédias.
· Sacrificar o passado, entregar o próprio filho. O Mistério do mal e da dor no mundo não encontra explicações racionais. Pior: conhecendo a maldade e arrogância de tantos humanos, atribuímos a Deus a mesma crueldade multiplicada ao infinito. Às vezes os sofrimentos parecem insuportáveis. Então, imaginamos um “Deus” como o “causador” de tanta perversidade. O autor da referida passagem do Gênesis de certa forma também nos apresenta um Deus meio “sádico” que parece interessado em atormentar Abraão com aquela “brincadeirinha” de mau gosto (afinal – no contexto bíblico – seria incabível exigir sacrifícios humanos (coisa comum para outras culturas).
· O episódio vivido pelos três principais líderes dos apóstolos, Pedro, Tiago e João, tem a finalidade de fortificá-los, preparando-os para a hora da angústia e escuridão (ela chegará quando sentirem frustração e decepção na prisão e morte do Mestre). A “Transfiguração” é uma experiência mística: nela os 3 discípulos “provam” o sabor ou uma “amostra” do que será aquilo que chamamos de “Ressurreição”. Aliás, apesar da experiência vivida, eles continuam não entendendo bem o que é: continuam “perguntando entre si o que significaria: Ser ressuscitado dentre os mortos” (verso 10)!!!
· No simbolismo da cena, Moisés representa a Lei (a libertação da escravidão). Elias (que em seu tempo restaurou o Javismo, isto é a fé livre da idolatria que é a causa última de toda opressão, representa o profetismo em Israel. “Lei e Profetas”, nesse momento começam a fazer sentido para os discípulos. Estão com o Mestre que é “o Filho amado” que deve ser ouvido (cf. v.7). Mesmo assim, Pedro se esquece do povo lá na planície. Só pensa em perpetuar esse instante místico, “aprisionando” Jesus, Moisés e Elias em três tendas... Na “Festa das Tendas” os judeus comemoravam (cf.Êx.23) o tempo em que o povo vivia nos acampamentos durante 40 anos, preparando-se para tomar posse da Terra prometida. A festa passou também a ser uma expectativa do Messias que viriam restaurar o reino de Davi para sempre. Mas – observa Marcos – Pedro nem sabe o que diz. No meio de tanta luz e tanta paz, os discípulos ainda estão “atemorizados”. Toda experiência do Sagrado é força para viver mas também “assusta” um pouco.
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(*) Professor (filosofia/pedagogia/teologia) mestre (educação/teologia/teol.moral) fesomor2@gmail.com = administração universitária e consultoria
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